Financiar a bioeconomia é investir em nossa sobrevivência

9 de setembro de 2024

*Estreia em portuguêsem 8 de setembro em O Globo (aqui)

por Maria Netto, Diretora Executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS); Marcello Brito, Secretário Executivo do Consórcio Amazônia Legal; Marcelo Furtado, Diretor da NatureFinance e Diretor de Sustentabilidade da Itaúsa

A economia é 100% dependente da natureza, desde a água que bebemos e o ar que respiramos até os telefones celulares sem os quais não podemos viver. O Brasil é uma potência ambiental, rico em biodiversidade e recursos hídricos, com uma matriz energética renovável e uma população otimista. Essas vantagens competitivas são um ativo estratégico para garantir o futuro e contribuir para a solução da crise climática global.

No passado, os eventos climáticos extremos foram relatados por Graciliano Ramos em Vidas Secas - destacandoo impacto das secas no Nordeste como um fator de migração e pobreza - e por Erico Verissimo em O Tempo e o Vento, mencionando as adversidades climáticas no Sul. Décadas depois, vemos um aumento na frequência e na intensidade desses eventos. Com o aumento das emissões de gases de efeito estufa e o fenômeno El Niño, estamos batendo recordes de altas temperaturas - espera-se que 2024 seja ainda mais quente do que 2023.

Esse cenário traz desafios, como as enchentes no Rio Grande do Sul e os incêndios florestais que afetam a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal e a Mata Atlântica, com enormes impactos humanos e econômicos, destruição de infraestrutura e perda de vidas. Um Brasil mais quente é o novo normal. Para reverter esse quadro, precisamos que a natureza e a economia estejam alinhadas com seu valor na geração de emprego e renda.

Um mundo em transformação exige novas perspectivas sobre o valor da natureza. A bioeconomia é uma peça fundamental na busca de uma economia que beneficie a natureza, o clima e as pessoas. É aqui que devemos investir com urgência, combinando financiamento com conscientização do consumidor, políticas públicas eficazes e regulamentação. Aqui, abordamos aspectos amplos da bioeconomia - desde a sociobioeconomia até aqueles que usam a natureza como infraestrutura e biotecnologia.

O Brasil criou uma oportunidade durante sua presidência do G20 - um grupo responsável por 85% do comércio global e 80% das emissões. Espera-se que a Iniciativa de Bioeconomia do G20 (GIB) gere dez princípios que organizarão "o que" e "como" a bioeconomia pode ser integrada à economia global e fará recomendações sobre como promover e financiar o setor.

Em sua última reunião presencial nesta semana, o GIB receberá o relatório Financing a Sustainable Global Bioeconomy - umaanálise pioneira do momento atual e das oportunidades na interação entre finanças e bioeconomia. Produzido pela NatureFinance e pelo Fórum Global de Bioeconomia, o relatório é uma contribuição de 21 organizações do setor privado, do meio acadêmico e de ONGs que apoiaram os esforços do GIB, incluindo o incentivo ao progresso do tema na próxima presidência do G20 (África do Sul) e a conexão com as principais conferências da ONU - a Conferência da Biodiversidade na Colômbia e a Conferência do Clima (COP30) em Belém (PA). O relatório será lançado no dia 12 de setembro em um evento no Rio que discutirá a variedade de instrumentos de financiamento da bioeconomia, desafios, tendências e inovações.

Avaliado em US$ 4 trilhões por ano, o setor poderia saltar para US$ 30 trilhões, mas isso exigirá compromissos governamentais, parcerias público-privadas, cooperação internacional, governança e financiamento. Há desafios significativos, como a falta de mecanismos financeiros adaptados às características específicas do setor, a percepção de alto risco por parte dos investidores e a falta de clareza regulatória e de métricas. O Brasil tem exemplos de superação dessas barreiras, combinando inovação financeira, parcerias público-privadas e políticas públicas que reduzem as incertezas e incentivam investimentos sustentáveis e inclusivos.

Também é essencial respeitar a diversidade cultural e o conhecimento tradicional dos povos indígenas e das comunidades locais - com uma visão integrada, que pode depender do sucesso da bioeconomia como um caminho que atenda às metas de equidade, especialmente em um mundo conturbado pelas mudanças climáticas. Financiar a bioeconomia é investir em nossa sobrevivência, a longo prazo e de forma equitativa.

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